Renda fixa em 2023: o que esperar?

O Brasil terminou o ano de 2022 com a segunda maior taxa nominal de juros do G20, em 13,75%, atrás apenas da Argentina, que recentemente decidiu manter a taxa de juros em 75%. Em terceiro lugar, ficam México (10,5%) e Turquia (9%).

Após diversas altas de juros realizadas nos últimos meses, o Copom, em sua última reunião no mês de dezembro, decidiu manter a taxa em 13,75%, porém deixando claro no comunicado que estão vigilantes para não deixar a inflação sair do controle e que os próximos passos vão depender da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

Para Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, a menor pressão dos combustíveis contribuiu para controlar a inflação. Em contrapartida, o fiscal fragilizado, o risco Brasil em alta, a preocupação com o aumento de impostos, o desemprego e o repasse de tudo isso pelas empresas via preço, deve começar a pressionar a inflação novamente em 2023: “São essas sinalizações em especial a que o mercado ficará bastante atento e ajudarão a atender os próximos passos do Copom“.

Diante disso, o que esperar para a renda fixa em 2023? De acordo com Idean, esse é um dos melhores momentos para se investir em renda fixa, já que temos uma Selic acima da média histórica de 13%, hoje em 13,75%, além de inflação alta, o que também ajuda na rentabilidade de títulos atrelados a ela:

“os ativos atrelados ao IPCA garantem para o investidor o famoso ganho real, que representa tudo o que o investidor ganhar de rentabilidade se comparado à inflação do período. Além disso, temos títulos de renda fixa que estão pagando hoje por volta de 16% por ano e, com prazo de resgate curto. É realmente um momento de céu de brigadeiro para o investidor mais conservador que gosta de renda fixa“, afirma Alves.


Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, acredita que as melhores opções agora, dada toda a volatilidade e elevado nível da taxa de juros, são aqueles investimentos pós-fixados como o Tesouro Selic, CDB ou LCI e LCA. “O investidor precisa entender seu fluxo de caixa e escolher aquela opção que melhor se adequa ao seu momento. Sem dúvida, os ativos pós-fixados são os que vão trazer menos volatilidade para a carteira do investidor“, diz.

Além disso, segundo Ricardo, é muito importante que o investidor conheça o seu perfil de risco e tenha um bom planejamento financeiro, pois de nada adianta querer fazer investimentos de longo prazo se precisar utilizar o dinheiro no curto prazo. “Se ele acha que seu recurso vai ser utilizado no curtíssimo prazo, eu recomendo que ele invista em CDBs ou LCIs e LCAs de curto prazo de até seis meses. Agora, se quer fazer uma aplicação para comprar, por exemplo, um apartamento daqui 10 anos, pode investir em longo prazo. O objetivo original e inicial da aplicação é carregar até o vencimento e aí sim conseguir garantir essas taxas mais altas por período mais prolongado“, alerta.

Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital, acredita que ainda não é momento de investir em ativos prefixados, já que ainda há um cenário muito nebuloso pela frente com a possibilidade de ainda mais altas de juros. “Não acho que é momento de aplicar no prefixado. O título prefixado é um complemento interessante e oportuno quando já se tem um momento de mercado mais tranquilo, que está mostrando que a taxa de juros pode cair. Nesse momento, o mercado está tentando compreender os rumos do novo governo. Então, acho prematuro investir no prefixado”, comenta.

Ricardo Aragon, sócio-fundador da Matriz Capital, ressalta que a busca por crédito privado tem sido frenética com a Selic em 13,75% e uma opção vantajosa é também investir em CRIs e CRAs, que acabam gerando uma rentabilidade maior ao emprestar dinheiro para empresas privadas.

“O investidor precisa ter muita cautela. E analisar bem o endividamento da empresa que está emitindo dívidas. Emissões de CRAs e CRIs aumentaram muito do semestre anterior para esse mostrando que muitas empresas estão com dificuldade de caixa e levando recursos para o capital de giro. Por isso, o cuidado deve ser redobrado ao verificar o risco operacional e de crédito dessas empresas“, afirma.


Para esse período repleto de incertezas e em meio à aprovação da PEC de transição, Bruno Piacentini, economista e professor da Eu me banco, acredita que os títulos pós-fixados são boas opções para o investidor, que muitas vezes, só olha para esse título como reserva de emergência por conta de sua liquidez e baixo risco de mercado: “Os títulos atrelados a taxa CDI não possuem o mesmo risco de marcação a mercado que os títulos prefixados e, com a alta taxa de juros, são uma ótima opção de rentabilidade“.

Em relação aos títulos atrelados ao IPCA, mesmo que paguem uma rentabilidade real ao investidor, Piacentini recomenda cuidados: “Com a inflação elevada, os juros sobem para conter a demanda da economia e, assim, controlar a inflação. Assim como vimos nas últimas reuniões do COPOM, com a taxa Selic saindo de 2% para 13,75%. Então, se iremos aumentar nossa rentabilidade com a parte pós-fixada deste título (atrelada ao IPCA), podemos perder dinheiro com a parte prefixada, que sofre com a marcação a mercado“.

Jaiana Cruz, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, acredita que, em um cenário de juros altos por mais tempo no Brasil, os títulos pós-fixados com vencimentos entre 1 e 2 anos podem ser uma excelente alternativa para aquele investidor que deseja continuar recebendo 1% ao mês (ou próximo disso) sem precisar adicionar risco à carteira, dado que as taxas pós-fixadas acompanham a Selic. Já as taxas prefixadas são interessantes para vencimentos mais longos (3 a 5 anos), pois a partir do momento em que a rentabilidade é contratada, o título permanecerá rendendo a juros altos mesmo que a Selic volte a cair.

Além disso, segundo a especialista, os títulos indexados ao IPCA continuam bastante atrativos, pois estão pagando um juro real alto (em torno de 6% acima da inflação). “Além disso, dependendo do cenário fiscal, há chances de revisões altistas para a inflação em 2023 e 2024. Nesse sentido, o ideal é o investidor optar por títulos do Tesouro Direto que tenham vencimentos nos vértices intermediários da curva de juros (entre 2028 e 2033). Vale considerar também investimentos em títulos de crédito privado que não são tributados, como as debêntures incentivadas, por exemplo, ou os certificados de recebíveis, tanto do agronegócio quanto do setor imobiliário. Lembrando sempre de atentar para a nota de crédito do papel, dando preferência aos títulos AAA“, comenta.

Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da empresa de educação financeira Escola de Investimentos, acrescenta que a melhor forma de investir em cenários de incerteza é buscar aplicações financeiras mais conservadoras inicialmente e diversificar a carteira aos poucos. “O mercado é irracional muitas vezes e os investidores nunca sabem a hora certa de entrar”, afirma.


Cohen também afirma que é uma boa hora para entrar na bolsa para acumular patrimônio no longo prazo antes que os preços das ações subam para quem tiver perfil arrojado. Na avaliação do analista, a bolsa deve andar para cima após a volatilidade causada pela eleição, depois que os investidores conhecerem a política econômica e fiscal do novo governo.